Todos os anos, milhões de toneladas de sucata de metal, plásticos, papel e vidro de todo o mundo são transportadas para a China para fornecer insumos baratos para o setor de manufatura do país.
 
As pessoas no negócio de reciclagem da China pagam pelo envio de papel, metal, vidro e plástico de países desenvolvidos como Estados Unidos e Europa, percorrendo milhares de quilômetros.
 
Adam Minter, autor de Junkyard Planet, escreve sobre essa indústria global desde 2002 e estima que o comércio vale meio trilhão de dólares.
 
"A China precisa de matérias-primas, mas ninguém recicla de graça. Você precisa ser pago por isso", disse o Sr. Minter.
 
"E a maneira como os chineses são pagos por isso é vendendo para o setor de manufatura."
 
Os centros que reciclam sucata importada estão ao longo da costa leste da China, onde estão localizados os principais polos de manufatura do país.
 
O cineasta independente chinês Wang Jiuliang ficou chocado com as condições dos locais que processavam plástico reciclado.
 
Ele visitou vários deles enquanto filmava para seu último projeto, Plastic China.
 
O filme do Sr. Wang mostra uma criança brincando com uma seringa usada e pessoas cobertas de sujeira e moscas peneirando pilhas de plástico.
 
"Se repórteres como vocês aparecerem com câmeras em lugares como este," as pessoas se aproximarão de vocês em 30 minutos, apenas 30 minutos," ele disse.
 
"Se vocês ainda estiverem lá depois de conversarem com vocês, eles usarão táticas desprezíveis para garantir que vocês saiam."
 
O Sr. Minter disse que as condições de trabalho no campo continuam ruins, apesar de uma melhoria geral.
 
"A China começou a adquirir instalações melhores, mais modernas e com mais proteções de saúde e segurança, mas ainda possui um grande número de instalações, especificamente na indústria de plásticos, que são de baixa tecnologia ou até mesmo sem tecnologia," disse o Sr. Minter.

O projeto do Sr. Wang causou alvoroço na mídia chinesa.
 
A agência de notícias oficial da China, Xinhua, argumenta que o país deve parar de importar sucata porque está lutando para lidar com seu lixo doméstico.
 
Há também um elemento de nacionalismo no debate.
 
"Fiquei chocado quando vi essas condições", disse o Sr. Wang.
 
"Comecei a refletir sobre isso. Quando os problemas de poluição da China são criticados pelo mundo, percebi que a comunidade internacional está desempenhando um papel vergonhoso."
 
A alfândega chinesa não se manifestou sobre a questão, mas, por enquanto, parece que as forças de mercado podem estar desempenhando um papel na contenção da maré.
 
Isso ocorre porque o plástico é feito de petróleo e, quando o preço do petróleo cai, o preço do plástico também cai.
 
A recente queda nos preços do petróleo significa que o plástico recém-produzido se tornou tão barato quanto os reciclados.
 
"Portanto, você viu um impacto tremendo no comércio de plásticos nos últimos três meses e os plásticos que poderiam ter sido exportados da Austrália ou dos Estados Unidos para a China, Índia ou economias em desenvolvimento que usam esse tipo de coisa, não estão indo no momento porque a demanda não está lá", disse o Sr. Minter.